Sem a realização de obra de contenção das encostas desde que os bairros Citrolândia e Nossa Senhora de Fátima foram prejudicados com uma das piores enchentes já registradas na história de Betim, entre o fim de 2011 e o início de 2012, os moradores das 24 áreas de risco de Betim já se preocupam com período chuvoso.
É que, segundo o meteorologista Ruibran Reis, do Climatempo, a previsão é que em dezembro, janeiro e fevereiro, o volume de chuvas seja de 30% a 40% maior do que a média de 2011/2012, quando choveu entre 1.300 e 1.500 milímetros. “Certamente vamos superar essa marca, principalmente na Zona da Mata, Sul de Minas e região Oeste. Devemos ter casos de, em apenas um dia, chover até 150 milímetros (150 litros de água por metro quadrado), mais que o suficiente para alagar”, diz Reis.
E, sem obras da prefeitura e do governo do Estado, moradores estão fazendo melhorias por conta própria para tentar se protegerem dos desastres causados pela chuva. Esse é o caso da dona de casa Itelvina dos Santos, 57, que mora na rua São Geraldo, no Citrolândia. Depois de perder quase tudo em sua casa com a enchente de 2012, ela construiu um muro nos fundos do imóvel, próximo ao rio Bandeirinhas, com o objetivo de impedir alagamentos.
“Todo ano, nessa época, a gente já fica com o coração apertado. Na última enchente, eu perdi o armário, a geladeira e até a televisão. Tudo que tenho hoje foi doado. Na época, tive que morar oito meses nos Correios até voltar para casa”, lembra.
Para a dona de casa Aparecida Ribeiro, a situação é ainda pior, porque o seu pai, de 80 anos, respira com a ajuda de aparelho de oxigênio e tem dificuldade para se locomover. “A gente já não sabe mais o que fazer. Já liguei para um hotel em São Joaquim de Bicas e fiz uma pré-reserva de um quarto caso a água do rio suba. Dependendo, vamos para lá”, conta.
Em 2012, o pai dela, que ainda não tinha problemas sérios de saúde, ficou ilhado depois que a água da chuva subiu até o segundo andar da casa onde moram, também na rua São Geraldo. “Foi um trauma para todos nós. O meu pai morava no térreo e perdeu tudo”, revela.
No bairro Nossa Senhora de Fátima, a situação é semelhante. Sem ter outro lugar para se mudar com a família, Júlie Modesto, 18, optou por construir um segundo andar na casa, que fica na rua Rio Branco. No ano passado, eles também tiveram prejuízos com a enchente. “Perdemos tudo”, diz.
Apesar da pouca idade, Júlie conta que já está cansada dessa rotina. Para ela, faltam obras. “Moro aqui há mais de dez anos e toda vez que chove é a mesma coisa. A lagoa Várzea das Flores transborda e invade essa região. Já protestamos muito, mas em vão. Por isso, o nosso sentimento é de indignação”.
Já Luzia da Silva, 41, não esconde o medo de continuar morando na região. “Tenho muito medo de continuar aqui, mas infelizmente não tenho condições de me mudar”.